Os protagonistas

Ao longo da pesquisa, desenvolveu-se crescente assombro pelo aferro dos defensores de Monte Castello. A determinação dos soldados brasileiros em atingir o sucesso durante os ataques é equiparada pela tenacidade dos soldados alemães que suportaram uma situação logística desfavorável e as informações sobre a iminente derrota que a Alemanha iria sofrer. Nada disto abalou a resolução dos homens da 232ª durante sua permanência na Itália. Ao final da elaboração desta pesquisa, resta a perplexidade quanto à capacidade humana de resistir às mais duras adversidades.

O Exército Brasileiro que lutou na Itália foi um só, mas ele era composto por militares com experiências formativas bastante diferenciadas entre si. Seu núcleo havia se originado principalmente dos antigos soldados do “velho Exército”, que tinham tempo de serviço que remetia à República Velha, nos anos embrionários da introdução da doutrina militar francesa no Brasil. Entre eles estavam os oficiais superiores e os sargentos antigos, alguns dos quais haviam sido promovidos a tenentes da Reserva de 1ª Categoria depois de décadas de serviço nos quartéis de todo o país. Estes homens estavam em extremos opostos da cadeia hierárquica, mas compartilhavam entre si as lembranças dos tempos em que o Exército apenas começara a direcionar esforços para se tornar uma força de combate eficaz, época de rígido controle de quaisquer recursos e de ferrenha disciplina, às vezes imposta por meios que já na década de 1940 seriam considerados inaceitáveis.

Uma fração de essencial importância dentre os componentes da FEB era o produto dos anos de modernização: os oficiais de carreira, tanto os subalternos quanto os de postos intermediários, como majores e os coronéis mais jovens. Vários dos capitães e os majores haviam passado pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, a tradicional EsAO, tida no Exército como a melhor de todas dentre seus vários estabelecimentos de ensino. A documentação produzida pelo oficialato da FEB dá mostras do profissionalismo dos egressos desta escola. Mas um problema clássico da História Militar é que a apreensão de conhecimento por parte do oficialato no sistema educacional não se mostra invariavelmente proporcional à disseminação deste conhecimento em todos os níveis de uma força. O resultado é que um exército pode não ser tão bom em seu desempenho em combate quanto poderia levar a crer o processo de formação de seus oficiais. Oficiais altamente habilitados no domínio tático precisam necessariamente comandar subalternos e praças aptos a entender e aplicar os conceitos táticos de forma prática. Na FEB, esse princípio lamentavelmente esteve ausente em um número alto de casos segundo foi admitido pelo comandante da Infantaria Divisionária, General Euclides Zenóbio da Costa. Foi preciso sanar essa deficiência depois dos ataques malsucedidos ao Monte Castello, já com baixas sofridas e as unidades empenhadas em linha, por meio de um sistema de rodízio que permitia que uma das companhias de um batalhão permanecesse na frente enquanto outra descansava e a terceira recebia instrução que a capacitasse a empregar táticas avançadas de Infantaria que muito teriam sido úteis nas primeiras operações. É certo que muitos homens morreram em virtude do arremedo de treinamento recebido no Brasil.

Estes oficiais de carreira combateram ao lado de um número desproporcionalmente elevado de oficiais R2, na maioria profissionais liberais convocados para a FEB e que serviram à testa dos pelotões de fuzileiros dos três regimentos de Infantaria.

Por fim, a categoria de combatente predominante na tropa da FEB era o civil conscrito.

Foi essa combinação de diferentes elementos que conferiu à FEB algumas de suas características específicas.

Este livro pretende combinar perspectivas diferentes para, enfim, tentar explicar a luta dos brasileiros pela posse de Monte Castello.

Deixe um comentário

Apoie este site - pix: ccmax45@hotmail.com