O Avanço Aliado na Itália

Um estagnado front secundário e um sumidouro de vidas. Assim é lembrada a campanha anglo-americana na Itália em virtude de seus avanços lentos e custosos. Do lado alemão, permanecem as queixas referentes à escassez de recursos e às constantes ações de sabotagem que convulsionavam a retaguarda. Tanto os Aliados como seus adversários têm argumentos sólidos para justificar as dificuldades encontradas: os beligerantes de ambos os lados tiveram sua capacidade de combate seriamente comprometida por fatores materiais e humanos. Em retrospecto, torna-se fácil e conveniente condenar a empreitada Aliada na península como uma iniciativa que redundou em sucessivas frustrações[1]. Mas, antes que se materializassem os recursos e a experiência operacional para empreender um grande desembarque capaz de satisfazer os anseios de Josef Stalin por uma segunda frente de amplas proporções que contrabalançasse a pressão do esforço de guerra nazista sobre a União Soviética, a cruenta progressão pela Itália foi uma das poucas iniciativas estrategicamente viáveis[2].      Os historiadores ainda não foram capazes de responder à pergunta sobre a validade e a utilidade da manutenção do esforço Aliado sobre a Itália depois da operação Overlord em junho de 1944. Depois que a campanha da França deslocou o Teatro de Operações do Mediterrâneo para uma condição secundária, os combates pelas linhas fortificadas alemãs construídas sobre os Apeninos foram justificados como uma medida que visava a aliviar o envio de reforços para o noroeste da Europa, além de procurar a continuidade da influência britânica sobre os Bálcãs. Essas questões jamais serão consensuais, e os julgamentos permanecerão díspares e contraditórios.

Após o desembarque Aliado em Salerno a 8 de setembro de 1943, o rei da Itália Vittorio Emmauele III assinou um armistício em separado e aprisionou Benito Mussolini, logo libertado por paraquedistas alemães no altamente divulgado reide ao Gran Sasso. Refugiado no norte da Itália, o ditador fascista estabeleceu a República Social Italiana, cuja sede oficial era a cidade de Saló. Para conter a progressão anglo-americana, o comandante alemão na Itália, o Marechal da Luftwaffe Albert Kesselring, organizou sucessivas barreiras fortificadas sobre os Apeninos. A primeira delas, ao sul de Roma, tornou-se célebre nas batalhas pela posse de Monte Cassino e as elevações circunvizinhas. Batizada de Linha Bernhard-Gustav, previa-se que a cadeia de fortificações seria capaz de deter o avanço Aliado temporariamente, infligindo grande número de baixas com o emprego de recursos relativamente modestos – menos homens são necessários para defender uma montanha do que para atacá-la[3].

Inúmeras e valiosas lições foram colhidas nas fases iniciais dos combates na Itália. Do lado alemão, muito da doutrina e das táticas defensivas ainda datavam da experiência da guerra de trincheiras de 14-18. Esses conhecimentos puderam ser combinados com o aprendizado específico da luta sobre os Apeninos, ainda reforçado pelas avançadas técnicas de combate que eram o domínio das tropas de montanha da Wehrmacht e das divisões de infantaria leve – as Jäger divisionen, equipadas e estruturadas de forma mais ligeira para facilitar as operações em terreno acidentado[4]. Depois da campanha da África, Erwin Rommel foi designado temporariamente para a Itália e de imediato percebeu que a superioridade aérea Aliada forçaria os alemães a combaterem em uma guerra de posições[5].

[1] Morris, E. La Guerra Inutile.

[2] A literatura sobre a campanha da Itália compreende desde visões favoráveis até obras que se aproximam do sensacionalismo iconoclasta. Ver, entre outros citados na bibliografia, os trabalhos de Ernest J. Fisher Jr., Ian Gooderson, W.G.F. Jackson, Shelford Bidwell e Dominick Graham, Carlo D’Este, Chester Starr e Martin Blumenson, assim como as memórias de Mark Clark, Lucian Truscott e Willis Crittenberger.

[3] Jackson, W.G.F., The Battle for Italy. Nova York: Harper & Row, 1967.

[4] Millet, A.; Murray, W. Military Effectiveness. Cambridge: Cambridge University Press, 2010; English, J.; Gudmundsson, B. On Infantry. Londres: Praeger, 1994. Sobre as inovações táticas na Itália, ver Gooderson, I., A Hard Way toMake War. Londres: Conway, 2008.

[5] Rezende Filho, C. Rommel. São Paulo: Contexto, 2010.

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