Táticas da Defesa Alemã

Os alemães desenvolveram a tática de “defesa elástica” durante a Primeira Guerra Mundial. Esse sistema de organizar as posições no terreno partiu da constatação de que as trincheiras longas e contínuas eram inadequadas e ineficientes, especialmente em vista da eficácia dos bombardeios de Artilharia, que eram capazes de atordoar as guarnições de quaisquer tipos de fortificações.

O princípio de defesa elástica era baseado na divisão e fragmentação das posições no terreno. A quantidade e densidade das fortificações aumentava gradualmente, na medida em que o avanço inimigo se afastava de sua base de partida. Em primeiro lugar, os alemães dispunham postos avançados (P.A.) nos pontos mais adiantados de sua linha de defesa. A função dos P.A. era alertar as posições principais sobre eventuais movimentações do adversário, além de servirem como pontos de reação para as patrulhas que procurassem maiores informações sobre a disposição alemã no terreno.

O cerne dos sistemas de defesa alemães seguia-se à linha de P.A. Ela tinha o nome de Hauptkampflinie (HKL), ou “Linha Principal de Combate”. Nesta zona fortificada, as posições eram construídas nos pontos de terreno que mais favoreciam a defesa, oferecendo melhores posições de tiro assim como abrigo da observação e fogo de artilharia dos Aliados. Era nesta zona que se escoravam os ataques e onde se abatia o maior número de soldados de infantaria que lograssem penetrar nos campos de tiro cruzado de morteiros e de armas automáticas. A HKL tinha profundidade variada, podendo medir desde algumas centenas de metros até alguns quilômetros, dependendo das possibilidades que o terreno ocupado proporcionava. Americanos e brasileiros tinham denominação própria para o mesmo elemento defensivo: Linha Principal de Resistência, ou LPR.

Por fim, na última porção de terreno organizado para a defesa, encontravam-se as posições da artilharia alemã. Essa região também agrupava as reservas de tropa: batalhões ou companhias que receberiam ordem de reforçar a linha de frente de acordo com a necessidade e gravidade da situação. Em direção ao fim da guerra, foi natural que a quantidade de homens em reserva diminuísse, mas ao longo de toda a guerra, foi regra que os alemães mantivessem o hábito de manter o grosso de seus contingentes nas condições de serem rapidamente deslocadas e enviadas para os setores em que os ataques Aliados fossem mais críticos.

As posições alemãs eram escavadas nos pontos de terreno que fossem considerados mais fáceis de serem defendidos. Se traduzirmos isso para a perspectiva Aliada, o princípio equivale a dizer que as fortificações alemãs encontravam-se nos pontos em que o infante empregado no ataque teria mais dificuldades de alcançar. Outra característica do posicionamento das defesas alemãs no terreno era a construção nas contra-encostas: várias das casamatas e espaldões de metralhadora eram escavados em barrancos de morro que não ofereciam um campo de tiro direto sobre as posições inimigas, mas que colocavam as armas em condições de dispararem de revés ou de flanco sobre a infantaria atacante.

Assim, os alemães não procuravam barrar os ataques Aliados logo que estes eram lançados das bases de partida. O método de defesa alemã aceitava a penetração inimiga no interior da HKL, exaurindo aos poucos a disposição de combate dos atacantes. À medida em que os avanços prosseguiam pelo terreno defendido, as armas automáticas e morteiros entravam em ação aos poucos e de surpresa, geralmente atingindo os pelotões e grupos Aliados a partir de campos de tiro inesperados.

Era raro, portanto, que uma tropa atacante fosse alvejada frontalmente por uma metralhadora inimiga. A tendência era que os Aliados recebessem fogo de revés, geralmente de barrancas já ultrapassadas e inacessíveis a pé. A eficácia deste sistema defensivo será exemplificada nos capítulos à frente, especialmente a partir dos relatos dos integrantes do 1º Regimento de Infantaria que integravam o III Batalhão da Unidade e que atacaram os pontos fortificados de Fornello e 803, mas que foram fustigados por armas automáticas postadas na área que era objetivo de ataque do II Batalhão.

Muitos dentre as dezenas de mortos brasileiros nos ataques ao Monte Castello foram abatidos por armas postadas fora das zonas de atuação de seus batalhões, contra as quais não podiam esboçar reação. Neste momento, com o grosso dos atacantes detidos, iniciavam-se os bombardeios alemães e os contra-ataques em que eram empenhadas as tropas em reserva.

No espaço temporal entre as duas grandes guerras mundiais, os teóricos militares desenvolveram as doutrinas de guerra móvel, que envolviam a combinação de armas e os princípios de mobilidade. No entanto, a introdução dos novos conceitos táticos e as vantagens advindas das inovações tecnológicas tiveram apenas relativa importância para a Alemanha. O país não dispunha de recursos estratégicos e de um parque industrial que capacitasse a produção de armamentos em grande escala, e, com a intensiva mobilização dos Aliados, a partir de 1943 os alemães viram-se novamente constritos a empregarem as suas táticas defensivas em torno do Reich, reduzidos à situação de estreitarem a circunferência do cinturão fortificado na medida em que a progressão dos Aliados apertava-se inexoravelmente em torno do país. Os alemães sabiam que somente a ofensiva conduzia ao sucesso, idéia que os Aliados nutriam com clareza a respeito das condições para a vitória. Ao admitirem a franca iniciativa de se restringirem à defesa de fortificações preparadas de antemão, os alemães já tinham consciência de que o máximo que poderiam fazer seria retardar o avanço Aliado.

A Itália era um apêndice desta linha de fortificações que se projetava para fora do núcleo principal de defesas em torno da Alemanha.

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