Com os efetivos quase recompletados no início de dezembro, o General Clark passou a insistir em uma nova fase de ofensivas do V Exército visando alcançar Bolonha antes do final do ano e assim evitar que os soldados amargassem mais um inverno nos foxholes gelados. Em sintonia com as intenções de Winston Churchill em alcançar Viena antes dos russos, Alexander desenvolveu uma alternativa estratégica de embarcar o VIII Exército pelo Adriático, invadir a Iugoslávia, penetrar pela brecha de Liubliana e convergir sobre a Áustria juntando-se ao V Exército Americano que teria a tarefa de cruzar o Ádige para formar o movimento de pinça com os britânicos[1].
Por outro lado, a diretriz estratégica do Estado-Maior Combinado (EMC – formado por George Marshall e Sir Allan Brooke e subordinado diretamente a Roosevelt e Churchill) havia estabelecido que nenhuma quantidade significativa de tropas Aliadas seria enviada para os Bálcãs, a não ser as divisões britânicas já designadas para a Grécia. Permanecia assim a orientação estratégica Aliada de prender Kesselring e suas divisões na Itália, direcionando forças para a captura de Bolonha, Ravenna e La Spezia. Ao frustrar a premissa britânica de manter o Mediterrâneo como sua área de influência, a orientação do EMC motivou em Alexander a iniciativa de desencadear nova ofensiva do VIII Exército na Itália no início de dezembro[2].
Com o céu favorável no dia 2 daquele mês, os canadenses avançaram e conquistaram posições ao sul de Ravenna. Ao sudoeste da cidade, os neozelandeses prepararam um ataque diversionário contra Lamona enquanto a 46ª Divisão britânica conduziu uma manobra de envolvimento sobre Faenza com apoio dos poloneses[3].
O General Vietinghoff, atuando como comandante do Grupo de Exércitos C, acreditava que não conseguiria conter o avanço canadense. Concomitantemente, um levante de guerrilheiros italianos se apoderou de Ravenna. Vietinghoff viu-se forçado a pedir ao OKW (o Estado-Maior da Wehrmacht) a concordância em retrair o X Exército a fim de evitar que tropas fossem removidas do front de Bolonha em reforço ao setor agora ameaçado. No dia 7 de dezembro, Hitler pessoalmente enviou uma típica ordem a Vietinghoff versando sobre resistência a todo custo sem ceder terreno algum aos Aliados. O Führer foi acometido de um efêmero momento de lucidez quando os britânicos conseguiram uma cabeça-de-ponte a oeste do rio Lamone e, relutantemente, concordou que Vietinghoff procedesse com uma ligeira retração de tropas em direção a última linha fortificada projetada para segurar os anglo-americanos antes do vale do Pó, a Gêngis Khan. A resolução alemã em combater e o terreno acidentado acabaram por prevenir a necessidade de retirada. O V Corpo Britânico passou a encontrar crescentes dificuldades, colaborando para estancar o avanço do VIII Exército [4].
Neste momento, os brasileiros se haviam com Monte Castello no flanco esquerdo do V Exército Americano. Inspirado no sucesso britânico, o QG de Mark Clark fervilhava de planos para a retomada do impulso na direção de Bolonha, que segundo Lucian Truscott, tornara-se uma obsessão do comandante do V Exército. E as intenções mais sérias centravam-se na possibilidade do II Corpo chegar à cidade em primeiro[5].
Clark planejou um ataque em três fases ao longo da Rota 65, consistindo em conquistar as elevações de Pianoro em dois lances e por fim uma arrancada geral do II Corpo pelo vale do Pó adentro, que culminaria com a conquista de Bolonha[6].
Aí entraria novamente a FEB: o IV Corpo teria a missão secundária de manter a pressão no vale do Reno, “continuando a série de operações com objetivos limitados iniciada anteriormente pelos brasileiros no setor de Bombiana-Marano”[7].
Portanto, as operações que a FEB conduziu contra Monte Castello em fins de 1944 foram planejadas a partir da estrita contingência de evitar o envio de tropas alemãs para o setor do II Corpo capazes de desequilibrar a ofensiva de Clark na Rota 65. Isso equivale a dizer que do ponto de vista tático os brasileiros estariam cumprindo com eficácia o papel de auxiliar nas operações principais mesmo que não conquistassem os objetivos alocados nas ordens do IV Corpo de Exército.
Alexander adia o avanço do V Exército
O sinal verde de Sir Harold Alexander para o avanço de Clark ainda dependia do sucesso britânico na direção de Faenza e da rodovia 9. Sem que os britânicos alcançassem seu objetivo e com a iniciativa de Clark bloqueada em função das más previsões meteorológicas impedindo o indispensável emprego de aviação desejado pelo general americano, Alexander começou a anunciar sucessivos adiamentos da ofensiva.
Na discussão sobre a campanha da Itália, permanecem os questionamentos a respeito da correção da decisão de Alexander em procrastinar o ataque do II Corpo. Para o historiador da Campanha da Itália Ernest Fisher, uma última impulsão anglo-americana em 1944 teria possivelmente alcançado Bolonha. O excesso de cautela foi prejudicial? Para responder a questão, é necessário adicionar as variáveis do esgotamento dos combatentes Aliados e da crise de abastecimento de munição. Por outro lado, os alemães haviam sofrido baixas pesadíssimas naquele mês. Em contraposição, tanto o II Corpo quanto o VIII Exército haviam aberto brechas consideráveis em seus respectivos setores, e no final de novembro, uma análise certificou o comando do V Exército que havia em estoque munição suficiente para garantir a manutenção de ataques por um máximo de treze dias. Imperou, contudo, a opção de suspender o avanço. As constantes da campanha da Itália – terreno, cansaço, logística – sugeriam que uma nova campanha de inverno resultaria nos mesmos números avassaladores de baixas dos meses da virada de 1943 para 1944[8].
A conseqüência óbvia da orientação de Alexander foi a suspensão dos ataques no setor de responsabilidade do IV Corpo.
Por
quê então a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária atacou Monte Castello em 12
de dezembro de 1944?
[1] Fisher Jr., op. cit.
[2] Fisher Jr., op. cit.
[3] Jackson, op. cit.
[4] Fisher Jr., op. cit.
[5] Lucian Truscott, Command Missions. Presídio Press, Novato, reimpressão de 1990.
[6] Truscott, op. cit.
[7] Fisher Jr., op. cit.
[8] Fisher Jr., op. cit.